Umas coisas que eu li por aí | A difícil realidade dos anos 2020-2021
Quem não está confuso ou um pouco mal, deve estar desinformado ou ignora a realidade
Olá, você. Essa newsletter ganhou muitos novos assinantes desde que fomos elencados entre as muitas incríveis newsletters brasileiras listadas pelo site Manual do Usuário. Portanto, se você chegou pelo link do Ghedin, seja bem vindo e bem vinda - essa newsletter tem tendências semanais, mas também tende à inconstância. Afinal, você deve ter recebido por aí o memorando dos tempos complicados que vivemos, e tem dias que não sobra energia pra enviar um email bem humorado, ou não sobra ânimo pra ler algumas coisas pra recomendar. Em todo caso, redobrei os esforços para não deixar os novos leitores e leitoras no vácuo. Só segurem as expectativas: tem dias que a newsletter chega na sexta, outros dias aos finais de semana, e tem momentos que ela não aparece. Não é problema no seu email ou no seu cadastro, é inconstância da redatora mesmo. Se tiver sentido falta de mais leituras bacanas, fica a dica de conferir as newsletters legais que estão na listinha da qual essa humilde newsletter artesanal faz parte:
Depois desse breve disclaimer, quem acompanha essa news sabe que ela sempre abre com uma pensata pessoal antes das leituras recomendadas. Pois bem: a pensata de hoje é banal e clichê: a sensação que eu tenho é que tá todo mundo um tanto mal, ou no mínimo confuso. Quem não está, não é possível, deve ter deixado de receber o “memorando Covid-19”. Tem de tudo: sobrecarga de trabalho que leva a burnout, sobrecarga emocional que se transforma em ansiedade ou depressão, um monte de dores físicas de fundo absolutamente psicológico. Imagino eu que as agendas dos médicos e médicas deva estar abarrotada, e os casos anedóticos deles claramente poderiam se tornar estatísticas: quantas pressões desreguladas por medo? Quanto quadro médico agravado pelo estresse dos nossos tempos ou por conta simplesmente do receio de ir a um hospital com um problema e sair de lá com dois? Que atire o primeiro motorzinho quem não pensou duas vezes antes de ir ao dentista - não dá pra manter a máscara, né?
Por isso, se você por acaso se sentiu entrando em parafuso algum dia, fica aqui a minha solidariedade: estamos todos um tanto mal, um tanto confusos, um tanto inconstantes. Pode ser que eu esteja escrevendo isso pra mim mesma também, como forma de lembrar que tá tudo bem se perder um pouco pelo caminho - afinal, dá uma olhada ao que temos ao nosso redor! Dentro do seu possível, busque ajuda e não passe por essa rebentação sozinho ou sozinha. Exige uma tonelada de vulnerabilidade admitir que precisa de ajuda e dividir as dores existenciais, mas seremos uma geração ou mais que carregará certas cicatrizes desses momentos, que podem se transformar em luto ou em luta. Não caminhe só.
Como você tem pensado a morte? - provocação da newsletter Tá Todo Mundo Tentando
Ela está tão presente, que virou mote da crônica de Gaia Passarelli em sua newsletter. Eu penso a morte como uma grande viagem, que as pessoas se foram estão se divertindo em outro plano, tanto que não conseguem parar para mandar notícias. E eu falo com elas como quem escreve uma carta a um Caro Amigo, como fazia Chico Buarque. Nunca tenho respostas, mas escrever às vezes faz bem.
Ladrão que rouba ladrão? - CEO da Signal invadiu kit da Cellebrite, usado para… desbloquear celulares na marra
Usado por autoridades para desbloquear celulares “na marra”, o kit da Cellebrite foi revirado por Moxie Marlinspike, CEO da Signal, aquele app de mensagens igual o WhatsApp, só que mais seguro. Moxie encontrou algumas vulnerabilidades curiosas e importantes, além de ter constatado que os dados extraídos à fórceps dos celulares bloqueados podem ser manipulados - ou seja, poderia ser possível adicionar ou suprimir informações, o que torna os arquivos extraídos questionáveis. Chamou a atenção também a dedicação de Moxie, já que a divulgação dos detalhes de vulnerabilidade do kit da Cellebrite aconteceu após a empresa ter avisado que conseguira quebrar a criptografia do Signal. Hacker que hackeia hacker tem 100 anos de perdão? Vi no Tecnoblog e Ars Technica.
Seria Fred Trajano o Jeff Bezos brazuca? CEO do Magalu compra participação no Poder 360
O Poder360, publicação com grande foco em política, ganhou nesta semana um novo sócio: Frederico Trajano, CEO do Magalu, que terá uma participação pessoal de 25% na empreitada de Fernando Rodrigues. O Poder 360 reforçou sua independência editorial, mas o mercado não deixou de fazer a ligação com um modo meio Jeff Bezos de atuação, que também esteve envolvido pessoalmente na compra do Washington Post.
Como você vai passar a pensar nas suas reuniões quando a vacina chegar por aqui
Ah, que inveja.
Vamos fazer pausas nas reuniões por vídeo, PLIS? Esses gráficos comprovam a importância dos intervalos
Especial para você encaminhar pra gestão da sua empresa - ou para ter na memória durante aquela reunião por vídeo que for ficar um tanto longa. Eu tenho feito aulas que duram até TRÊS HORAS ININTERRUPTAS em vídeo e termino simplesmente exausta. Não recomendo a ninguém. Esses gráficos mostram a importância de pensar em pequenas pausas ou intervalos, para baixar o estresse de todo mundo. Seus interlocutores agradecem.
Em tempo: não é também para falar “ótimo, fim de jogo, vamos todos voltar ao escritório e fazer reuniões ao vivo”. Até porque reuniões por videoconferência são importantes para a inclusão de outras pessoas que funcionam diferente, como os que lidam com ansiedade social, que encontram alguma facilidade nas conferências em vídeo.
Esquece essa história de que a “garra” leva ao sucesso - ser consciente é tão ou até mais importante nesse aspecto
Angela Duckworth defendeu em TED Talk e em livro1 o poder da garra, essa coisa que permitiria predizer o sucesso de alguém. Em teoria, a paixão e a perseverança poderiam ter o poder de garantir que você vai “chegar lá”. Faz sucesso nos TED Talks e tal, mas uma matéria da Nautilus argumenta que essa proposta é meio frágil: existem outras características, como ser consciente, que são bem mais importantes para prever o sucesso de alguém no futuro.
“Tanto a garra quanto a conscienciosidade parecem estar medindo o mesmo conceito (…). Ou seja, se Duckworth tivesse publicado uma pesquisa mostrando que ser consciencioso poderia, até um certo ponto, predizer o sucesso acadêmico, outros pesquisadores teriam rolado os olhos e dito: ‘claro, a gente já sabia disso’. Mas ao apresentar um conceito que parecia novo, com um nome chiclete, Duckworth pode ter conseguido avançar muitos quilômetros com uma ideia que já era parte da literatura há muito tempo (o que não é uma sugestão de que ela tenha feito isso de forma intencional)”, explica o autor da matéria. Vale ler para não cair em qualquer nova argumentação, mesmo que acadêmica. Hoje em dia, ceticismo parece que é ouro.
“Cortei meu cabelo na Amazon” - gigante da tecnologia vai ter salões de beleza
Eu já entrei em uma livraria da Amazon, já conheci os supermercados da Amazon, e estou impressionada (mas não surpresa) de que em breve poderei até mesmo ir cortar meus cabelos na Amazon. A empresa está entrando no business da beleza, com salões patrocinados cheios de tecnologia para “prever” com realidade aumentada como seu corte ou coloração vai ficar - e, é claro, te vender algumas coisinhas ou aprender algo sobre seus padrões de compra.
A esperteza da Taylor Swift no mercado musical - relançando suas próprias músicas para contornar limitações do mercado
Como sempre, uma incrível leitura do Ben Thompson no Stratechery, que explica a genialidade de uma estratégia de Taylor Swift de relançar seus próprios álbuns para contornar uma limitação mercadológica. Afinal, o grande segredo é ser dono dos fãs, e não do copyright.
Seguindo no mesmo tom - o desafio dos artistas em serem bem remunerados pelas plataformas de streaming
E quem não é Taylor Swift tem que lidar com desafios enormes para conseguir algum pagamento ínfimo pelas canções que ouvimos nos serviços de streaming. Ghedin conta mais sobre a via sacra na busca de um serviço de streaming que remunerasse bem (ou, ao menos, menos mal) os artistas que escutamos. Spoiler: não é fácil.
Você não está só: estamos todos sobrevivendo como podemos
Essa matéria do New York Times ressalta um pouco como não são só os reles mortais que estão sofrendo com a pandemia de uma forma ou de outra. Mentalmente, os jornalistas do NYT estão sofrendo, estudantes de doutorado em respeitadas universidades estão cansados e estressados, há uma falta de memória generalizada, uma apatia, uma letargia, tudo isso está vindo pra todo mundo. Tem gente tentando dar nome pra coisa - Languishing em português foi traduzido como definhamento, e eu não gostei da expressão, defendi que teriam outras expressões possíveis em uma thread no Twitter - mas independentemente do nome, é importante lembrar: não estamos só. Estamos sobrevivendo como podemos.
E se a consciência é mesmo melhor que a garra, tente ser consciente: busque ajuda no seu círculo, compartilhe a tristeza, faça terapia, procure entender com seus médicos o que pode ser feito, tente arriscar uma caminhada, um exercício na sala, dançar sozinho. Não garanto o efeito de nada disso, mas acho que estar ciente de que não se está bem pode ser o primeiro passo na busca por estar melhor. Seguimos tentando. Siga tentando. Vamos juntos.
Até a próxima!
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