Umas coisas que eu li por aí | Piora antes de melhorar
O conselho que ouvi no colegial técnico no século passado continua vivo, o que é impressionante
Pros que não sabem, essa jornalista que vos escreve um dia já foi uma programadora. Pois é, sei fazer os if-then-else quando precisa, entendo como funcionam banco de dados e não ficaria assim tão perdida com comandos SQL, mas decidi enveredar pro lado da arte (ou ciência? ainda não tenho certeza) de aprender a comunicar essas coisas todas para quem estava de fora dos ambientes de codificação. O aprendizado não era exatamente didático, o que me fez sofrer bastante nos primeiros semestres do colegial técnico, quando lembro do seguinte conselho dos veteranos do 7o semestre: piora antes de melhorar. A boa notícia? Ia melhorar. A má notícia? Piora antes disso.
É essa a sensação que vivo hoje com essa pandemia sem fim com a qual temos convivido. Desafiar-se a fazer uma conversa sem mencionar os termos “pandemia”, “covid”, “máscara” ou “distanciamento” parece uma tarefa hercúlea. Pra quem está precisando de ao menos alguma noção mínima sobre prazos e linhas do tempo, o sensacional site “Quando vou ser vacinado?” pode ser um entretenimento. Você indica sua idade e estado de residência, e ele informa em quanto tempo você talvez seja vacinado (digo talvez porque estamos no Brasil, né? Nunca se sabe). Lembra que eu falei que piora antes de melhorar? Meu prazo indica que eu vou precisar de mais 9 meses e 13 dias de máscara, distanciamento, irritação e quarentena pra receber minha dose. Ou seja, basicamente o negócio ficou pra 2022. Por isso, a única coisa que conseguiu me fazer rir nessa semana, um riso sarcástico, mas ainda assim um riso, foi essa excelente tirada da tirinha do xkcd:
“_ Mesmo se a ameaça eventualmente desaparecer, graças às vacinas e tal, e se ela se tornar só mais um vírus comum da gripe em circulação… Eu acho que a gente deveria se dedicar a erradicar o Sars-Cov-2 globalmente só de birra.
_ Políticas de saúde pública baseadas em vingança. Eu gosto disso.”
<desabafo> Força aí em manter a quarentena, se você for do #TimeDistanciamento como eu, que já estão profissionais em fazer origami com nosso papel de trouxa de ser os últimos brasileiros resistindo bravamente à ideia de ver família e amigos sem máscara, morrendo de saudade de uma mesa de bar. Vai piorar antes de melhorar, mas eventualmente melhorará. </desabafo>
O bem e o mal - Situação da pandemia abriu chances para deficientes nas redações dos jornais, mas está levando a uma crise de exaustão entre os jornalistas
Com todo mundo trabalhando remotamente, quem tem dificuldades de locomoção por conta de alguma deficiência física encontrou finalmente chances de conseguir se integrar a redações de jornais. Ao invés de passar por todo um périplo até o local de trabalho, conseguem usar a estrutura adaptada de suas casas pra colaborar com outros times. YEY! No entanto, a mesma pandemia está acabando com a saúde mental dos jornalistas, que não podem se dar “ao luxo” de tirar umas férias do noticiário. Que droga.
Emojis que retratam o nosso tempo
O emoji “chorando de rir”😂 era um dos mais usados no mundo todo (em inglês), e perdeu o posto recentemente para o emoji de “chorando copiosamente” 😭, destacou o Ghedin em seus Achados e Perdidos.
Como um reality show mofado foi reapropriado por um país sedento para jogar em equipe
Juliana Cunha tem uma escrita gostosa, crítica e por vezes ácida - exatamente do jeitinho que eu acho que algumas temáticas merecem. Nesse recente texto, ela analisa por que o BBB21 virou esse grande sucesso, com taxas recorde no paredão e uma audiência que monopoliza nossas threads no Twitter todas as noites, e se embrenha em discussões do nosso dia a dia. Mais do que um bom trabalho da produção do programa, Juliana argumenta que parte do sucesso advém talvez dessa nossa ânsia por ter alguma coisa em comum e poder jogar em equipe, nessa ilusão de “união nacional” por algo. Vale muito a leitura, na Revista Barril.
O trabalho remoto veio pra ficar e vai alterar Manhattan
Ainda quero ver se essas previsões todas vão mesmo virar, mas com a chegada do segundo ano do tempo da peste da Covid-19, começo a achar que no mínimo os impactos vão ser sentidos por alguns anos. Sigo na mesma moradia do início de 2020, mas fico morrendo de inveja dos amigos que tiveram a coragem (e os recursos financeiros) de mudar pra praia ou arranjar uma casinha no meio do mato ou na montanha. Minha vontade continua sendo urbana, mas quem sabe de volta à minha cidade natal? Essas vontades que pareciam possíveis apenas na aposentadoria vão impactar bastante centros urbanos: hoje, 90% da força de trabalho “de escritórios” de Manhattan está atuando remotamente. Pra algumas empresas, pode ser a oportunidade de ter escritórios maiores por preços mais baratos. Pra outras empresas, pode ser a chance de se transformar em uma modalidade de trabalho distribuído - e tornar realidade esses sonhos de casa no campo ou escritório na praia. Nada certo ainda. Quem foi pro mato ou pra praia, aproveite!
Cuidado com os apps que você escolhe pra deixar suas anotações - eles podem estar tentando entender seus jeitos de pensar
O mercado de aplicativos de anotações dos mais diversos tipos está aquecido. Vários estão recebendo rodadas polputas de investimento - como é o caso do Notion - e tem outro na praça, o app Mem, que deixou escapar numa entrevista os motivos pelos quais algo tão simples gera tanto interesse financeiro: o grande valor desses apps não é ajudar você a organizar sua vida e suas ideias, mas com o tempo compreender como é que as pessoas “pensam” para organizar suas ideias. Duvida? Saca só esse trechinho da conversa com o TechCrunch: “A esperança maior dos fundadores e investidores por trás do Mem é que a equipe consiga, com o passar do tempo, usar a inteligência da plataforma para compreender os dados que você coloca pra fora do seu cérebro (…) para entender você melhor do que qualquer rede de anúncios ou rede social”.
Isto posto, fica a minha dica do app Obsidian, que é o que tenho usado por aqui para organizar os pensamentos em relação ao mestrado. A sincronização fica no meu serviço da nuvem favorito, e uso um app bem simples para editar os arquivos de texto, que se interconectam entre si. Tem sido interessante - e até onde foi a minha investigação, não estão monitorando os dados que anoto a partir dos meus pensamentos.
Cientistas podem estar perto de criar exames de sangue para detectar depressão e bipolaridade
Finalmente uma boa notícia - cientistas parecem ter conseguido criar um exame de sangue capaz de ler informações que indicam se um paciente está com depressão ou distúrbio bipolar. A ideia é fazer com que a psiquiatria pare de ser uma espécie de jogo de adivinha e se aproxime um pouco mais da oncologia, no sentido de possuir exames que ajudem a balizar os tratamentos. Hoje, tudo é feito de forma muito subjetiva, com base nos relatos dos pacientes.
Colocar alguém na geladeira diz mais sobre você do que sobre quem você está deixando na geladeira
Sabe aquela prática de deixar alguém de escanteio, dando “um gelo” na pessoa? Segundo uma matéria na The Atlantic, isso tem sido usado como uma forma de punir as pessoas por muito tempo, e é um comportamento que realmente pode causar dor nas pessoas, porque elas se sentem ostracizadas, deixadas de lado, desconectadas. Ou seja, se sentir rejeitado realmente é dolorido (e segundo cientistas, ativa as mesmas regiões do cérebro relacionadas a dor física).
Curiosamente, esse tipo de atitude de “dar um gelo” em alguém pode dizer muito mais sobre quem adota táticas de “silenciar” as conversas com alguém do que quem se vê sendo colocado de lado e “não sendo escutado” - a matéria também destaca que esse tipo de comportamento de isolar alguém pode ser viciante, o que faz com que as pessoas o adotem mesmo quando sabem o mal que estão causando.
Spoiler: pra quem é colocado na geladeira, a dica dos especialistas é tentar vocalizar a sensação de dor, já que ela não é visível (algo como “eu fico triste quando você me ignora desse jeito”), para dar chance da outra parte tentar adotar outro comportamento. Caso não dê certo, a sugestão número dois é abandonar esse relacionamento. O texto completo pode ser lido na The Atlantic.
Antes de encerrar, fica a dica de assistir o documentário Coded Bias - ele conta mais sobre os vieses que podem ser embutidos quase sem querer nos códigos que influenciam e regem nosso dia a dia na atualidade. O quase sem querer é irônico mas também verídico: como a maioria dos desenvolvedores são homens brancos, grupos minorizados podem acabar de fora, não sendo nem mesmo reconhecidos pelas técnicas de reconhecimento facial, por exemplo. E o problema está na base da forma como treinamos nossos algoritmos. Esse documentário foi a minha indicação do último podcast Guia Prático, que apresento em parceria com o Rodrigo Ghedin.
Fique bem, use máscara, se puder fique em casa e, se estiver entediado em casa, busque refúgio nos vídeos calmantes de Bob Ross, que passa meia hora contigo fazendo pinturinhas de arvorezinhas felizes e outras tantas “coisinhas felizes”. Eu achei relaxante.
Até a próxima!