Umas coisas que eu li por aí | Produtividade do lazer é a vitória do capitalismo
Podcast em 2x, ouvir livro enquanto corre na esteira, assistir seriado dando fast forward e minha lembrança sobre a experiência de esperar por Godot
Há algum tempo eu tinha visto essa tirinha maravilhosa do Raphael Salimena, e sempre me lembro dela quando me vejo produtizando meu lazer. Eu tenho sim uma meta de leituras de livros pro meu ano, mas por muito tempo a lista ficou empacada porque eu não sabia descartar leituras que não me agradaram, ficava insistindo em recomendações dos amigos que não eram compatíveis com os meus gostos e pronto, travava tudo. Desde que eu comecei a me dar mais permissão pra simplesmente desistir de um livro, por mais hypado que ele fosse (spoiler: não curti Elena Ferrante) eu comecei a ler mais, melhor e até mais rápido.
Só que toda vez que eu estou vendo minha mente seguir pra uma organização que fica produtizando o meu lazer (ouvir esse livro enquanto faço essa outra coisa, podcasts em velocidade acelerada, etc etc) eu lembro que não precisa ser assim. Afinal, se tem algo que acompanhar a peça de Esperando Godot com todo o didatismo objetivo do prof. Eric Sabinson (in memorian) me ensinou foi que tem horas que a gente PRECISA sentir o tédio que a arte quer nos propiciar. A demora tem motivo, e tem hora que nos irritar é exatamente o que o artista quer que a gente sinta. “É pra se incomodar, é pra SENTIR o tédio”, lembro do Eric dizer. Será que a gente ainda sabe sentir isso?
E se você não quer acreditar na provocação de uma tirinha, fique com a minha desculpa oficial, fornecida pela escritora Doris Lessing, que eu sempre uso pra explicar por que ainda não li o Golden Notebook: não leia um livro que não está no tempo certo para você.
“Nunca, nunca leia nada porque você sente que deveria, ou porque é parte de uma tendência ou de um movimento. Lembre-se que o livro que te entedia quando você tem 20 ou 30 anos vai abrir as portas para você quando você tiver 40 ou 50 anos - e vice-versa. Não leia um livro fora do tempo certo para você.” - Doris Lessing
Cansaço do Zoom poderá ser substituído por interatividade gamer em eventos virtuais
Eu já tinha cantado essa bola lá em 2020 (parece distante, né?) e agora terei a possibilidade de experimentar ao vivo e à cores essa novidade no Sh*ft, um evento que vai acontecer dentro do Gather. Estarei em grandissíssima companhia nessa mesa, e acho que a experiência digital vale o rolê virtual. Quem comprar ingresso também vai poder ver ao vivo e à cores a capacidade de mediação do meu co-apresentador de Guia Prático, o Rodrigo Ghedin, o que me deixa livre pra apenas trazer provocações e incendiar o parquinho. Pra saber mais sobre o Gather, tem essa matéria do The Guardian.
Número perfeito para ficar de home office: dois dias por semana
E eu protesto, meretíssimos! Desde que iniciamos esse experimento forçado de home office enquanto confinados em casa, estudiosos ficam tentando adivinhar o número de dias ideal para fazer home office. A última proporção indica dois dias em casa para três dias no escritório, e eu discordo. O pessoal da Automattic e de tantas outras empresas totalmente remotas se encontram algumas vezes por ano e só. Eu trabalhei em times globais que se viam anualmente e é isso. Por isso a respostas está muito mais próxima para depende (e aí você coloca as variáveis de quem é você, qual a cultura da sua empresa e qual é a natureza do seu trabalho) do que essa coisa de estabelecer números. Minha proporção áurea de home office é inversa: um encontro semanal (no escritório, em um café, em um co-working) seguido por trabalho feito remotamente no restante do tempo.
Ativistas de privacidade podem ter oferecido pedras pras big techs construírem castelos
Evgeny Morozov publicou recentemente um material muito curioso no Guardian. Depois de ver Apple e Google apresentarem soluções diversas de privacidade, ele se questionou se as supostas conquistas dos ativistas por um maior cuidado com a privacidade das pessoas não foram, no final, tiros que sairam pela culatra. Ou, de certa forma, se as pedras que foram arremessadas em direção às empresas não se tornaram material para que elas reforçassem seus castelos. No argumento de Morozov, as empresas passaram a oferecer “soluções” para as questões de privacidade que eram levantadas, ao invés de fazerem reflexões mais profundas sobre por que elas não deveriam estar se apropriando desse tipo de informação dos seus usuários. “A indústria da tecnologia vai lidar com a crescente ansiedade do público sobre fake news e vícios digitais ao reforçar o que eu chamo de solucionismo, com as plataformas digitais mobilizando novas tecnologias para oferecer aos usuários uma suposta experiência completamente segura e controlável”, criticou. Como sempre, uma leitura bastante crítica e catastrófica, mas que faz pensar sobre a recente super defesa da Apple pela privacidade e as ferramentas de controle de privacidade apresentadas recentemente pelo Google (falamos de ambos os temas no podcast Guia Prático).
Solucionismo ou preocupação real?
Adeus, Internet Explorer
Além de ser uma pessoa que sabe o que é o ícone do “salvar” no Word (para os centennials, é uma figura de um disquete, tá?), eu vou me juntar ao grupo que também soube o que era o Interner Explorer, navegador da Microsoft que por muito tempo veio embutido dentro dos sistemas operacionais Windows. Vai ser aposentado oficialmente em 15 de junho de 2022 (daqui a pouco mais de um ano) e vai ser substituído pelo jovem Microsoft Edge. No entanto, me peguei pensando: será que as novas gerações ainda vão saber o que é um navegador, ou vão apenas entender a internet navegada por apps? Socorro, estou mesmo velha.
Olha a onda, olha a ondaaaa
Vi no Covid Art Museum (que eu também já tive o prazer de escrever sobre).
Sempre fui bem honesta - essa é uma newsletter com tendências semanais, mas de viés inconstante. Escrevê-la é uma forma de lazer de quarentena, algo que eu gosto de fazer, mas que não quero me OBRIGAR a fazer. Então tem dias que sai na sexta, outros durante o fim de semana, em outros momentos quando eu consigo cavar 30 minutos entre os trabalhos da semana. Ou seja, às vezes o intervalo é maior do que uma semana, mas pode ser porque eu não tenho nada de bom pra dizer ou porque preferi descansar (no último fim de semana, por exemplo, eu decidi não fazer absolutamente nada que não fosse relaxante, até fiz uma romaria ao interior pra pegar os meus tão queridos bolinhos caipira.
Se gostou, não desista, eu sempre reapareço. Até a próxima!