Umas coisas que eu li por aí | Usando as mesmas palavras com diferentes significados e causando confusão
Será que os grandes desacordos tem a ver com usar as mesmas palavras, mas dentro de um outro contexto de história?
Vem comigo pra reflexão maluca: imagina se a gente estivesse usando a mesma palavra que outras pessoas, mas com um significado diferente. Sei lá, como se pra mim a palavra “vermelho” refletisse a cor das folhas do lírio da paz. Ia causar uma senhora confusão, né? É meio que nessa toada que o escritor norte-americano Seth Godin fez uma provocação recentemente em seu blog. A gente vai criando novas palavras pra expressar coisas que são realmente novidades - FOMO, JOMO, NFT, até FODA (!) - mas nem sempre quem ouve vem do mesmo contexto, ou ouviu a mesma história que nós.
E aí, se prepare pra uma grande confusão. O Godin sintetiza: “novas palavras nos oferecem novos jeitos de entender o mundo, porque o mundo vem com histórias anexadas. E os desentendimentos frequentemente acontecem porque apesar de estarmos usando as mesmas palavras que as outras pessoas, não estamos contando as mesmas histórias que eles estão”.
Pensei que isso explica a Grande Treta Social que eu tenho enfrentado nos grupos de WhatsApp da minha vida. Certamente a ideia de “compartilhar informação” vem com um viés completamente positivo pra todo mundo, enquanto pra mim está associada a um enorme risco de espalhar desinformação. Fica a reflexão.
Mobília que fez parte do cenário da entrevista de Oprah com Harry e Meghan está esgotada nas lojas
O cenário era quase bucólico, mas Oprah não estava brincando por ali, não. Quase tudo o que apareceu nessa fotinha aí de cima esgotou nas lojas, desde o vestido da Meghan Markle até a mobília do cenário. Oprah também foi apontada por especialistas como “a melhor entrevistadora de celebridades de todos os tempos", por ser capaz de fazer uma conversa coloquial e não agressiva, mas ao mesmo tempo encontrar informações importantes e não deixar o entrevistado sair pela tangente ou “sabonetar” o entrevistador.
Um tecno-rei, um mestre da moeda, e uma capacidade de fazer qualquer malabarismo para se manter na mídia
Eu confesso que só pude rir e transformar a notícia em piada entre os amigos da área. Elon Musk, o bilionário e maluco dono da Tesla, renomeou o próprio cargo na empresa para “tecno-rei” da companhia. O diretor financeiro da empresa, na mesma pegada, se transformou em “mestre da moeda”. Dessa forma, eu fiz questão de chamar o Rodrigo Ghedin, que co-apresenta o Guia Prático comigo, de tecno-cético e tecno-premier do Manual do Usuário. Alguns leitores do Conselho do Manual me apontaram como tecno-otimista. Eu tento ser, a realidade que às vezes não ajuda.
Uma história longa que vale a leitura - Wired conta como funcionou o leilão feito por um acadêmico para levar sua equipe de pesquisa de IA para o Google
Ó, para os que não tem muito tempo, eu já aviso que essa é uma leitura longa, mas recompensadora. A Wired publicou uma matéria que detalha como um acadêmico proeminente da área de pesquisa em Inteligência Artificial conseguiu tomar decisões curiosas para, ao invés de aceitar uma proposta milionária de levar sua equipe para trabalhar para um grande conglomerado, deu seus pulos para criar uma empresa com seus mentorados e pupilos, e tocar um leilão secreto entre grandes titãs da tecnologia para conseguir o melhor preço pela sua expertise. O final da história - que eu não vou te contar, pra não dar spoiler - é o mais bacana, e mostra que nem sempre dinheiro é o mais importante. Recomendo muito a leitura.
Trabalho remoto também pode ser assíncrono - ferramenta Threadit pode ajudar
Não escondo de ninguém que eu sou uma pessoa absolutamente produtiva em meu home office. Claro, eu preferiria mil vezes poder sair durante os finais de semana ao invés de ficar trancada no apartamento também nos dias de descanso, mas meu tipo de trabalho felizmente se adequa muitíssimo bem ao trabalho distanciado.
Inclusive, eu sempre fico deslumbrada com a capacidade organizacional da Automattic, empresa dona do Wordpress, que tem o time completamente distribuído em diversas partes do mundo. Matt Mullenweg, CEO da Automattic, sempre destaca duas capacidades que sempre trago comigo: conseguir se comunicar de forma clara por meio da escrita e estar preparado para lidar com as demandas de forma assíncrona, ou seja, sem que tudo precise de uma reunião ao vivo pra ser resolvido. Reuniões são ótimas, não me entenda mal, mas elas se proliferam de um jeito bizarro que pode transformar o dia da gente em uma sequência de reuniões e nenhum planejamento ou execução.
Daí que eu achei interessante a proposta do time de inovações do Google que criou - totalmente distanciados - uma ferramenta chamada Threadit. A ideia é que você possa se comunicar por áudio e vídeo, mostrando a sua tela e tudo mais, e a pessoa que recebe a “Thread” do outro lado pode escutar e ver quando for mais conveniente. Pense como uma versão multimídia do áudio do WhatsApp, que se tornou tão comum pro trabalho hoje em dia.
Pensando nas exigências que já tive ao lidar com times globais, atuando em diferentes fusos, tenho uma esperança latente (e insistente) de que mais empresas possam compreender as vantagens e saber como se adaptar às demandas de um mundo distribuído, remoto e, por vezes, assíncrono. Pode ser desafiador no começo, mas pode ser sensacional para quem se adaptar.
Para quem está na dúvida sobre “mas Jac, eu jamais conseguiria liderar um time assim”, essa leitura pode ajudar - ela fala de modalidades intermediárias, como o modelo híbrido, que assim que resolvermos essa treta com a Covid-19, pode ser uma referência para muitas empresas por aí, que poderão contratar seus talentos em um raio de muito mais quilômetros do que a grande SP ou grande RJ. É isso, eu quero voltar pra minha São José dos Campos, na santa paz do ar da montanha, e sempre vi o trabalho remoto como meu passaporte pra essa vida. Contratem todo mundo remotamente e façam a Jac feliz 😉
Pais e mães estão revendo o que exatamente significa “muito tempo de tela”
Também pudera: com o caos que estamos vivendo e a impossibilidade de permitir que as crianças interajam na escola ou com os amiguinhos de forma segura, as telinhas se tornaram o entretenimento possível dos últimos 12 meses. A ponto dos sistemas de controle parental do Google fazerem sugestões de ajustes para o que é razoável e o que deve ser autorizado no gadget das crianças, como as plataformas de aulas online, por exemplo. Minha total solidariedade aos pais e mães que estão sobrevivendo esse momento com pequenos em casa. Vocês são guerreiros!
Wikimedia terá um serviço pago para as Big Techs que forem usar a Wikipédia
Esse assunto foi uma das longas discussões e embates que eu tradicionalmente tenho com o Ghedin toda santa quinta-feira, quando gravamos o Guia Prático. De um lado, eu enxergo um ponto positivo na nova oferta da Wikimedia, que vai oferecer uma API premium para as Big Techs como Google, Apple e Amazon, que usam parte do conteúdo da Wikipédia nos seus sistemas para oferecer informações aos usuários. Hoje, esse uso da Wiki pelas gigantes tech é totalmente gratuito, mas um tanto “rústico”, por assim dizer. A nova API corporativa, que será oferecida pela Wikimedia Enterprise, terá algumas vantagens e facilidades, além de maior rapidez no acesso. Eu acho interessante: finalmente cobrando de quem está fazendo dinheiro com os resultados obtidos pela fundação Wikimedia, que não tem fins lucrativos, o que pode retornar milhares de dólares pra fundação e tornar a Wiki ainda mais sensacional. YEY!
No contraponto, há uma preocupação com como esse viés comercial poderá impactar os objetivos e missões da Wikimedia, que tem bases muito mais nobres do que ganhar dinheiro das Big Techs. Ghedin levantou o ponto crucial de que a licença de software livre pressupõe que esse tipo de serviço deveria continuamente oferecido de graça, e que a pressão (e os milhares de dólares) das Big Techs pode, lá na frente, deixar a Wikipédia refém de interesses comerciais. Sugiro ouvir o podcast pra entender melhor os argumentos dos dois lados, mas o spoiler final é que eu e Ghedin concordamos em discordar até que tenhamos mais informações sobre como tudo isso vai rolar.
Apps que supostamente são capazes de funcionar como anticoncepcionais estão em pé de guerra em busca de aprovação da FDA
Imagine você que ao invés de usar camisinha, tomar pílula, colocar um implante subcutâneo ou apostar em DIUs, você pudesse simplesmente usar um app e ele te diria quando transar com segurança e quando não transar pra evitar engravidar. Essa é a proposta de dois apps do mercado americano, o Natural Cycles e o Clue. O primeiro recebeu aval da FDA, órgão de controle de alimentos e medicamentos nos EUA, para ser autodeclarar como um “app de controle de natalidade”. Usando o precedente da concorrência, o Clue pediu a mesma validação da FDA, e os apps estão no momento em pé de guerra. O ponto da discórdia? Ambos fazem uso de dados e de Inteligência Artificial (IA) para prever os períodos férteis das usuárias e propor que, nestes momentos, evitem transar ou usem um método contraceptivo. A diferença é que o Natural Cycles tem um “ponto de dados” que o Clue não tem, que é a medição de temperatura. Basicamente um tem uma tabela com mais colunas do que o outro para fazer as suas predições. O The Verge contou mais sobre a treta e ajuda a entender que, no final das contas, é importante estar bem informado sobre os riscos envolvidos em todo santo método contraceptivo que alguém decidir utilizar. Nenhum deles tem 100% de eficácia.
Antes de me despedir, vale reforçar que seguimos no pior momento da pandemia no Brasil. Somos considerados agora o epicentro da doença, e os números seguem em alta. Redobre seus cuidados: evite sair de casa ao máximo possível; se for inevitável, use máscaras com maior qualidade, como as PFF2. Na dúvida, ouça os conselhos e explicações do Átila Iamarino em live recente, onde ele explica o tamanho do desafio. Ao mesmo tempo, não esqueça de manter a esperança, nem que seja a esperança do tipo da Tai Nalon:
Fique bem, fique em casa e até a próxima!