Li por aí | Faz tempo que a gente não "bloga"
Um começo de ano com nostalgias, promessas e metas - como costuma ser quase todo ano (ainda bem!)
Eu queria abrir essa newsletter com um cursor piscante. Desse que indica que a gente está com um grande branco, ansioso por começar, mas sem saber como dar o primeiro passo, digitar a primeira letra. Aí fiz o que qualquer um que está navegando na internet nos últimos 12 meses tentaria fazer: pedi pros robôs de IA fazerem pra mim.
“Cursor piscando na tela, documento de texto”
“Cursor de escrita piscando na tela, documento de texto, preto e branco”
“Cursor do tipo select piscando na tela, em documento de texto, para evidenciar que o escritor está com uma sensação de não saber o que escrever”
Nada retornou um bom resultado. Primeiro o robô achou que era um cursor clássico, da setinha. Não era bem isso. Depois ele entendeu que precisava escrever “cursor piscante”. Também não era bem isso. Gastei alguns bons minutos antes de capitular e pensar: melhor fazer um print de uma tela em branco do Word, não?
Não, não é, porque o piscar é essencial para contar a história aqui. O piscar traz o ritmo da ansiedade que bate na gente diante da tela em branco pensando que a ideia parecia ótima na nossa cabeça, mas por onde mesmo começar agora? Tentei então abrir um aplicativo para gravar o cursor piscando na minha tela. Precisei buscar um tutorial, aprender a ligar e desligar o aplicativo de gravação de tela, depois precisei tentar editar o vídeo para deixar apenas o cursor… Cansei. Não é possível, essa é a ideia mais manjada possível, alguém deve ter feito esse gif em algum canto da internet, não?
Sim. Com a busca correta no Google, o segundo resultado levava a esse link, que tinha sim exatamente o que eu queria para abrir essa newsletter: um cursor piscante, que dá o nervosinho que a gente sempre tem quando vai começar alguma coisa. “E agora, será que vai dar certo?”, muitas vezes pensamos internamente.
E nunca temos a resposta certa. Temos a resposta inventada (acho que vai dar bom!), a imaginada (talvez não sirva pra nada!), a motivacional (temos que começar por algum lugar!), a ansiosa (parece uma grande perda de tempo), mas nenhuma delas é a resposta certa. Porque tem certas coisas que não vivem no chaveamento binário do certo ou errado. Nesses casos, acredito que o importante é tentar e ser o mais gentil consigo mesmo ao longo do processo.
Esse caminho todo também me fez pensar no trabalho envolvido no processo criativo. Muitas vezes a gente pensa que ‘é só’ colocar uma coisinha aqui na abertura, mas esquece de pensar no tipo de dedicação que precisa estar envolvida para fazer essa coisa acontecer. Criar dá trabalho e toma tempo.
Essa newsletter entrou em hiato em meados do primeiro ano do meu mestrado (felizmente agora concluído!), enquanto eu estava um pouco sobrecarregada com as demandas que eu mesma inventei pra mim, mas por algum motivo ao longo dos últimos meses me deu vontade de voltar. Difícil apontar o dedo exatamente no motivo correto, mas acredito que é uma mistura de sentir falta de um local mais autoral para conversar com as pessoas (trabalho como ghostwriter hoje em dia, o que faz com que eu precise atuar com a voz dos clientes, não com a minha) e também com a sensação de que talvez os robôs sejam muito úteis, mas eles ainda vão precisar de muita gente sendo “babá de código” para fazerem coisas decentes e inspiradoras.
Isso já era assunto em 2019, quando eu fui responsável por essa capa bonita aí de cima, mas a gente estava focado mais nos robôs físicos, não tanto nos robôs de IA. Do início de 2023 pra cá, parece que tudo pode ser feito por IA e eu fico surpresa a cada dia com as ferramentas colocando o botão da varinha mágica pra dizer que um robô de IA pode resolver aquele texto por você.
Não é bem assim. A qualidade do que você pede (o prompt) influencia, e geralmente você tem que refinar o que o robô entrega, que nem faria com o trabalho delegado pra um estagiário. Resumindo, lidar com os robôs será que nem lidar com o cursor piscando na tela, na minha visão. Eles podem ajudar a tirar a gente do marasmo de não saber pra onde ir, desse “branco” que acaba levando à procrastinação (“faço amanhã, hoje não tô com inspiração”), mas eles estão longe de resolver nossos problemas e bem perto de fazer uns materiais muito repetidos, tudo igualzinho, que nem os posts que eu ando vendo no LinkedIn e que a galera jura que tá arrasando. A gente sabe que vocês estão usando o ChatGPT, viu?
Tudo isso pra dizer que essa newsletter vai voltando, devagarzinho, na maciota, com tranquilidade e tentando trazer não só um punhado de links legais, mas quem sabe algumas reflexões. Não sei dizer a periodicidade que vou manter - idealmente seria semanal, mas estou aprendendo a lidar com as sazonalidades da vida e tem momentos que é mais fácil se comprometer e outros que é beeem mais difícil de manter promessas semanais até com o exercício físico, que dirá com uma newsletter. Mas tem promessa de ano novo que se mantém o ano inteiro, viu? Foi assim que eu comecei no Pilates, na Natação, e acho que pode ser assim que eu retomo esse hábito aqui também. Fé nos Millennial, que a gente segue tentando.
Li por aí e você pode achar bacana também
Substack tá indo de Elon Musk?
Träsel destacou na news dele (que me lembra muito os áureos tempos de blogs) que mudou de serviço de envio da news porque com o TinyLetter (da Mailchimp) fechando, ele precisava de um serviço gratuito e decente, “que não passasse pano pra nazista”. Pois é, a verdade é que o Substack tá indo de Elon Musk e mandando mal em algumas coisas - ainda que a funcionalidade aqui continue boa e eu, na preguiça, tenha pensado que é melhor tentar manter a ideia funcionando numa plataforma mambembe por enquanto do que já recomeçar a brincadeira tentando fazer uma migração. O unico detalhe é que o Träsel disse que o ButtonDown seria grátis pra até 1 mil assinantes, mas o fato é que o limite são 100 leitores. Se você quiser ler os insights do Träsel e fazer com que ele tenha que pensar em migrar novamente ao passar os 100 leitores, você pode fazer isso nesse link.
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Super ricos pedem: por favor, nos cobrem mais impostos (!)
Na primeira leitura eu pensei que só podia ser piada, mas parece que é real mesmo. Também pudera: ser taxado vai só melhorar a reputação deste pessoal que não tem que pensar em nenhum boleto pra pagar, e tem chance de tornar as coisas menos desiguais no longo prazo. Difícil bater palma pra rico dançar hoje em dia, mas diante de tanto exemplo ruim, me sinto compelida a apoiá-los a serem sim taxados com mais veemência. Antes eles do que eu (mas se eu chegar lá, pode deixar que vou topar ser taxada também).
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Tentar antecipar não é fácil, mas não fazer o exercício pode se provar mais difícil
Ao longo do tempo que estive no time do Guia Prático, podcast do Manual do Usuário, me acostumei a todo final de ano sentar junto do Rodrigo Ghedin e do Guilherme Felitti para fazer algumas previsões para o ano novo. A partir do segundo ano da brincadeira adicionamos também uma revisão das previsões do ano anterior, vendo o que acertamos e o que erramos. Não é uma atividade fácil, porque é complexo tentar antecipar o que vem por aí, mas ao mesmo tempo hoje sinto que não fazer esse exercício me deixa mais propensa a refletir menos. Tanto é que puxei o gancho com o Ghedin pra mantermos a brincadeira neste ano, mesmo eu não estando mais na ancoragem do podcast. E foi bacana: neste link temos a revisão das nossas previsões para 2023 (acertamos umas, erramos outras) e também um link pro Órbita, onde compartilhamos nossas ideias para o que vem aí em 2024.
Pouco depois cruzei com esse texto em que a autora revisitava suas previsões para o mercado de trabalho em 2025. Vale destacar que as previsões dela foram feitas cerca de 15 anos atrás (por volta de 2010) e muita coisa mudou muito desde então - teve até uma pandemia no meio. O curioso é refletir que alguns dos exercícios de pensamento dela, ainda que não tenham sido absolutamente certeiros, davam uma direção similar ao que encontramos hoje no nosso cotidiano e me fizeram pensar que o exercício de refletir pode valer muito mais do que a tentativa de acertar. (Leitura completa aqui, vai te exigir 10 min de concentração)
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Tesouro Direto “pega Millennial”: opções pra ajudar a economizar pra aposentar ou estudar
Não sou nenhuma expert em investimentos, mas as novas opções do Tesouro Direto que focam em gerar um fundo complementar de aposentadoria (Renda+) e um fundo para pagar os estudos (Educa+) me pareceram a melhor estratégia “pega Millennial”. E faz sentido: a gente tá sempre pensando em estudar (talvez porque precise ter uma série de carreiras ao longo da vida) ou pensando que não vai conseguir mesmo aposentar (e agora tem uma opção de investimento feita pra tentar tirar essa culpa do nosso radar).
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Escrever pra ajudar a pensar
Entre o mar de links que cliquei e li durante o recesso e as férias, caí nessa newsletter com um argumento muito interessante pra voltar a escrever nesse espaço aqui. O argumento me parece muito válido: escrever nos ajuda a pensar.
Depois de ter escrito algumas dezenas de páginas num material de mestrado ao longo de mais de dois anos, posso dizer que realmente escrever é, de certa maneira, um dos estágios da reflexão. Nem sempre as linhas estão bem escritas, as frases estão conectadas, mas sentar para tentar transformar o que se passa na sua cabeça em sentenças com início, meio e fim é, sim, um jeito de refinar nosso pensamento.
Há quem faça isso de maneira emocional em um diário, o que ajuda a organizar os nossos caos internos; há quem aposte em técnicas de Zettlelkasten para organizar pensamentos acadêmicos e ideias; há quem tenha apps ou caderninhos específicos pra sistematizar as 255 ideias que surgem na nossa cabeça ao longo dos dias (eu, pelo menos, me beneficiei bastante de tentar usar o Obsidian enquanto estava pensando em iniciar o mestrado). Seja qual for a forma de escrita que você escolher, seja ela pública ou privada, fato é que acredito muito que parágrafos são capazes de melhorar ideias assim como conversas são capazes de refinar reflexões.
“Mas todo mundo escreve para ser lido por alguém, Jac, esse processo é também um pouco uma tentativa de afagar o ego”, me disse uma pessoa muito querida certa vez. Tenho que dizer que acho que sim, há um componente, mas que nem sempre a expectativa é de ser lido por muitos, mas talvez ser lido por alguns bons e poucos que possam contribuir. E mais: muitas vezes esse um que vai ler, a depender do assunto, acaba sendo a gente mesmo, só que daqui a algum tempo. Na dúvida, tente escrever. Não precisa ser uma newsletter: pode ser um email, pode ser uma nota no seu aplicativo de anotações do celular, pode ser um bilhete. Pode te ajudar a pensar.
Quem mais você pode ler por aí
Se tem uma coisa que a implosão de certas redes sociais me fizeram de bom foi me fazer lembrar que existem outras boas formas de consumir bons conteúdos. Voltei a ler meus feeds RSS e minhas newsletters, consumi mais páginas de livros, ouvi mais podcasts e perdi menos tempo em tretas e conversas que eu nem sabia onde tinham começado. Senti saudades dos blogs porque muita gente que eu gostava muito de ler eu já nem sei mais onde posso encontrá-las sem precisar necessariamente da intermediação de uma big tech, mas aos poucos fui reencontrando blogs e newsletters e espacinhos digitais não tão hypados que permitem uma leitura legal.
Por isso, pensei em fazer indicações por aqui sempre que possível. Nesta edição, além da newsletter do Träsel (chamada Abas Abertas, um ótimo nome), sugiro também a assinatura da 38 músculos, recém lançada pela Natacha Alencar.
O quem vem por aí
Se tudo der certo, os desdobramentos da minha pesquisa de mestrado sobre o Atila Iamarino e o seu trabalho como influenciador de ciências, defendido no último trimestre de 2023, vão surgir ao longo deste primeiro semestre. Em todo caso, eu deixei também uma micro-divulgação científica do rolê todo fazendo uma apresentação da defesa lá no meu Instagram, caso você esteja curioso sobre o que me ocupou a cabeça e o Obsidian ao longo dos anos pandêmicos.
SXSW 2024: estarei em Austin novamente em março para acompanhar esse festival que é sempre um show de novidades que inspiram por um ano inteiro. Foi a partir de lá que percebi o tamanho do boom da IA Generativa (e não me desesperei com isso) e foi também lá que percebi discussões avançadíssimas e inspiradoras sobre cuidados com saúde, envelhecimento e planejamento urbano. Estarei junto ao time sensacional da GoAd Media e na volta sempre tem palestras - se você quiser já fazer uma reserva, só me procurar.
O lançamento de um livro de memórias em co-autoria com a minha cliente: Katia Wendt tem uma história de vida incrível (parece coisa de filme, se eu não tivesse ouvido tudo em primeira mão ia achar que era ficção) e trabalhamos juntas ao longo dos últimos anos para converter sua jornada em um livro autobiográfico capaz de inspirar e motivar até a alma mais descrente. O título ainda é segredo, mas você pode acompanhar a Katia no Instagram @katiawendt
Até breve!
“Quando vem a próxima newsletter, Jac?”
Ixi, pergunta difícil. Eu não sei. Quero deixar isso como um exercício semanal, mas vamos vendo como a vida se organiza. Estamos ainda no primeiro mês do ano, muitas promessas, muito entusiasmo, mas já faço esse movimento há algumas boas décadas e me conheço bem (e sei que pode não durar).
Mas, se eu conseguir lembrar que esse é um espaço de fazer pensar, pode ser interessante voltar mais vezes. Nos lemos em breve!