Li por aí | MVP do cotidiano
Jogador mais valioso da rodada? Nada disso: o mínimo viável das ideias, que permite testar sem se estabacar
Esta mesa, chamada Ergodesk, tem sido meu sonho de consumo nos últimos tempos. Sonho, porque parece ótima para trabalhar de pé, mas que fica mesmo no âmbito apenas do imaginário considerando o custo (começa em R$ 1.700) e o fato de que estão todas esgotadas no site. Fiz um giro pelos sites de seminovos e usados (OLX, enjoei) e ninguém está vendendo - o que é boa notícia (ninguém se arrependeu da compra), mas também má notícia (não dá pra comprar pela metade do preço de alguém que se arrependeu). A concorrência também é genial: produto similar, mesma funcionalidade, com estoque, preços a partir de R$ 2.200.
But not today, capitalismo. E não comigo, que acredito em MVPs do cotidiano.
O que eu chamo de “Produto Mínimo Viável” (MVP) do cotidiano é o que o meu vô chamava de ‘gambiarra’: uma coisa que faça a mesma função, mesmo sem materiais ideais. Pois saiba você, que lê essa newsletter, que eu estou digitando essas linhas de pé com o seguinte combo:
Um suporte em X para teclado (~R$ 100 no Mercado Livre);
Uma placa de isopor de 5cm de espessura (usei a proteção de uma caixa de ar condicionado, mas você pode comprar em papelaria, deve custar algo como ~R$ 30)
Papel pardo suficiente para embalar a placa e não ficar caindo pedacinho de isopor pela casa (~R$ 15 em papelarias)
Um deskmat para passar por cima de tudo e não ficar escorregando (estou usando um antigo, custo médio de R$ 150 em um novo)
O bom do suporte em X é que ele permite ajustar a altura ao que ficar confortável pra você - fique atento à ergonomia da digitação, o ideal é 90º no cotovelo. O custo total do MVP de standing desk? Menos de R$ 300. Vai durar pra sempre? Claro que não. Mas eu não preciso que dure pra sempre. Preciso que dure o suficiente pra ver se eu realmente me beneficio de uma mesa pra digitar de pé.
Gosto desse tipo de pensamento porque ele me permite ter uma certa agilidade em… falhar. Consigo falhar barato, falhar rápido, corrigir com velocidade e aí então ver se a coisa vale mesmo a pena. Para desespero da Poliana, minha sócia, que me vê fazendo exatamente isso dentro da IRIC, nossa iniciativa de divulgação científica e influência acadêmica: devagar, pra gente falhar rápido e corrigir com celeridade. A parte ruim é que os acertos são mais lentos também - mas é mais fácil escalar algo certo do que corrigir algo muito grande e errado.
Se eu vou comprar a standing desk? Não sei. Por enquanto, estou feliz com meu “standing aparador gambiarra”.
Li por aí e você pode achar bacana também
(Ex-)Bezos do Bem: MacKenzie Scott mais influente que Bill e Melinda na Filantropia
Para cada pessoa rica sem noção, quem sabe encontramos bilionários com coração? MacKenzie Scott, que ajudou a fundar a Amazon junto do seu ex-marido Jeff Bezos, tá doando em maior velocidade que Bill e Melinda Gates, famosos no rolê da filantropia. Foram US$ 16,5 bi em 5 anos, o que é proporcionalmente mais do que os US$ 53,8 bi de Bill e Melinda ao longo de 23 anos.
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Rituais menos tradicionais: o buquê vai para casal mais antigo na festa
Ao invés de jogar o buquê para as mulheres que ainda estão em busca de um relacionamento, casais nos EUA estão inventando uma nova ideia que me pareceu bem mais interessante e talvez menos sexista. Eles criaram uma dinâmica onde o DJ vai anunciando para ficarem na pista de dança os casais que estão juntos há mais de 2 anos, há mais de 5 anos, há mais de 10 anos, e assim sucessivamente. Quando restar apenas um casal na pista, ambos são presenteados com o buquê. Afinal, se manter em um relacionamento envolve dedicação de ambas as partes. Fé nos novinho, que eles serão criativos em atualizar rituais.
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Como saber quando nos tornamos verdadeiramente adultos?
Gosto muito da The Atlantic para leituras mais profundas. Essa daqui leva a uma reflexão interessante sobre o que realmente marca nossa passagem para a vida adulta. Nos últimos tempos, isso parecia com “conseguir morar sozinho” - haja vista que o custo de vida está pela hora da morte e dividir os gastos tem sido a solução de muitos para conseguir viver, especialmente nas grandes (e caras) metrópoles. Assim, deixar de morar em uma república para viver só seria, afinal, o grande marco da vida adulta. Mas… será mesmo? Gosto de dizer que um dos períodos mais formativos da minha vida em termos de colaboração e liderança foi quando dividi uma casa com outras sete (sim, você leu certo, eram oito comigo) jovens mulheres durante a graduação. Combinar como cuidar dos afazeres da casa, manutenção, lidar com emergências, reunir oito mentes distintas e tentar chegar a um acordo, tudo isso com uma verba bem restrita para lidar com tudo, foi um dos momentos mais árduos e de maior desenvolvimento de soft skills que eu já tive. O texto leva a refletir se, afinal, saber lidar com o caos de uma vida coletiva não seria um marco mais importante de finalmente “adultescer”. Fica a provocação.
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Tem certeza de que você quer mesmo ser promovido à chefia?
Estudar, encontrar um trabalho, começar devagarzinho, subir ponto a ponto a escada corporativa e finalmente alcançar cargos de coordenação, supervisão e direção. Essa era a trilha que me contaram que levaria ao sucesso, mas talvez aquele pessoal que me dizia isso não tivesse lá uma visão de amplo espectro sobre o rolê (e nenhum dos que me disseram isso foram coordenadores, supervisores ou diretores). Arthur C. Brooks defende que quem quer mesmo subir na carreira deve levar em consideração também os contras, que envolvem solidão e uma queda na felicidade relacionada ao trabalho. Estar na liderança é trabalho árduo. Já escutei muito de lideranças com a qual tive contato, na função de ghostwriter, que o caminho do topo é não apenas difícil, mas solitário: há dificuldade em encontrar com quem trocar e colaborar. Lideranças não sabem de tudo, também sofrem, também se estressam. Pensei que o artigo ajuda a refletir não apenas se vale a pena cavar essa promoção a todo custo, como também ajuda a ver as lideranças de uma maneira mais humanizada. Imagina estar lidando com uma nova gestão e saber que aquela liderança deve passar ao menos os próximos 2 anos um tantinho infeliz? Ajuda a trazer perspectiva.
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SPIKES é o método dos médicos para dar más notícias
Cruzei com essa no Instagram da Cecília Dassi - nome que você talvez reconheça pela carreira de atriz mirim, mas que hoje é psicóloga. Ela comentou sobre o protocolo que os médicos são indicados a usar para dar más notícias, algo que eles fazem cotidianamente. O acrônimo lembra em cada letrinha que é preciso cuidar do ambiente onde as más notícias serão dadas, tentar perceber melhor o que se passa com o receptor dessa mensagem ruim, obter um certo consentimento para dar detalhes, compartilhar o conhecimento da causa, amparar as emoções que podem surgir com o impacto da má notícia e, por fim, resumir a situação toda e tentar traçar uma estratégia conjunta para lidar com os próximos passos. Achei interessante conhecer o método porque mesmo que eu não precise informar a ninguém sobre uma doença terminal ou um caso crítico de saúde, certamente parte dessas informações podem servir para dar outros tipos de más notícias - alguém pensou nos passaralhos da tecnologia? Pois eu pensei.
Quem mais você pode ler e ouvir por aí
Foi quase uma coindicência, mas pouco depois de conhecer o método SPIKES, o assunto foi tema de um episódio da Rádio Novelo Apresenta, um podcast de variedades que sempre traz uma perspectiva interessante sobre algum tema que eu desconheço completamente. Já aviso que alguns episódios são meio assim, sem pé nem cabeça, mas na última vez que parei para cuidar de afazeres domésticos, ouvi não só sobre o método SPIKES na prática, como também sobre como pesquisadores estão tentando descobrir com pequenas organelas cerebrais como é que funciona a nossa consciência. Ouço sempre que posso pra ter histórias novas no repertório.
Se você não for do áudio, recomendo o livro Amanhã, amanhã e outro amanhã, da Gabrielle Zevin. Uma leitura com personagens e histórias complexas, num ambiente bem contemporâneo. Quem curte games pode aproveitar melhor as referências, mas quem não entende muito também não vai ficar completamente perdido.
O que vem por aí
Aos poucos estou apresentando aos clientes a minha nova marca, reimaginada pelo Estúdio Singulano, do amigo e excelente profissional Marcos Singulano. Fiquei bem satisfeita com o resultado, que evidencia em imagem (algo que não é minha especialidade) o processo de colaboração e co-criação que tenho junto aos meus clientes. Aos poucos vou atualizando os principais canais de comunicação com a nova paleta e logos.
Junto da GoAd Media, vou compartilhar dentro de algumas semanas algumas das principais palestras, apresentações e mesas de discussão do festival SXSW 2024. A ideia é dar uma mãozinha para quem vai e está um pouco perdido sobre o que assistir. Spoiler: não confie apenas no título das apresentações, mas confira quem está apresentando. Faz toda a diferença.
Cobertura do SXSW vai acontecer no meu Instagram - por motivos de agilidade e praticidade, insights diários vão sair diretamente no meu arroba na rede social. Se você quiser acompanhar em quase tempo real, pode me seguir em @jacquelinee. Também devo fazer uma edição especial desta newsletter diretamente de Austin, então fique esperto na sua caixa de entrada ali no início de março.