Li por aí | A influência que te convence
Somos nós mesmos, as nossas circunstâncias e as influências que decidimos aceitar
Existe a propaganda de página dupla. O outdoor. O banner. O spam.
E existe a recomendação e indicação de alguém em quem você confia.
Muitos dos que vão me ler nesta edição se tornaram assinantes dessa humilde newsletter por indicação recente do Rodrigo Ghedin, com quem apresentei o podcast Guia Prático por quase 3 anos. E quando digo muitos, são muitos mesmo: em poucos dias, registrei um crescimento de base de assinantes de mais de 10%.
“Ah, mas podem ter sido tantas outras coisas”, você pode pensar.
Pois é. Eu também pensei. Mas estive tão imersa em algumas entregas importantes recentemente que não postava nada desde o início do mês. E a indicação do Ghedin foi publicada justamente no dia em que as inscrições começaram a subir.
No jargão de mercado, Ghedin tem um alto potencial de conversão. A base de pessoas que ele alcança tende a ser “convencida” pela mensagem dele e segue a recomendação que ele dá.
Mas para além dos jargões de mercado, a indicação dele mostra o poder da influência. Que calha de ser digital, porque o meio utilizado por ele foi uma newsletter, mas que é primordialmente baseada na influência pessoal do Ghedin e na força que ele construiu para a sua marca.
Também pudera! Não é todo mundo que passa pelo crivo do Ghedin. Conhecido por sua alta criticidade e baixa tolerância para balelas, confesso que fico lisonjeada com a indicação, mas também fascinada com o fato de que a ideia da comunicação em duas etapas do Katz e Lazarsfeld pode hoje ser metrificada. Os líderes de opinião da época deles são as pessoas com influência para nos fazer decidir coisas. Não é a toa que os criadores de conteúdo com elevado engajamento e conversão tem sido hoje chamados de influenciadores digitais. O poder que eles tem de intermediar e endossar uma informação é imenso e faz a audiência final da mensagem ser mais propensa a acreditar, gostar ou aprovar um produto ou uma ideia que eles indicam.
Se Ghedin estiver me lendo neste momento, posso apostar que estará se contorcendo na cadeira. “Puxa, Jac, me chamando de influenciador digital?”, ele ia me dizer, precedido de um muxoxo.
Reconhecer-se como influenciador, digital ou não, não é demérito nenhum. É, na verdade, uma grande responsabilidade.
O que a gente por vezes se esquece é que cada um de nós é um influenciador em alguma esfera das nossas vidas. Acabamos ficamos relapsos.
Ou ao menos isso é o jeito mais elegante que eu tenho de me referir à falta de cuidado dos meus vizinhos ao circular mensagens no WhatsApp do condomínio. Para além da habitual desinformação que seguem espalhando (e eu sigo checando, como quem enxuga gelo), recentemente eles deram para tirar prints de câmeras de vigilância privada com acusações de que “tal pessoa da imagem” teve um comportamento suspeito ou realizou um crime. Além de Foucault mandar lembranças, estão todos sendo irresponsáveis com a influência que podem exercer: imagine se isso detona um ato de vigilantismo e acaba levando ao linchamento de alguém inocente?
Felizmente, sei que Ghedin tem a sua responsabilidade em dia. Além de me conhecer, ele provavelmente deve ter acompanhado algumas boas edições antes de decidir me indicar.
E se do lado de lá existe a grande responsabilidade da influência que uma indicação pode causar, saibam que do lado de cá cresce também a responsabilidade de estar à altura da indicação.
Depois de um mês intenso, ia me conceder uns dias a mais de folga antes de retornar, mas a indicação do Ghedin (e os novos assinantes que vieram com ela) me motivaram a me antecipar.
Conto esse bastidor todo para também incentivar você que me lê a refletir sobre a influência positiva que você também pode exercer.
Pode ser indicar um amigo seu para uma vaga de trabalho (o famoso QI funciona porque, bem, quem indica empresta seu valor e endossa certa candidatura!). Pode ser prestigiar o novo negócio do seu familiar e fazer uma recomendação numa plataforma qualquer. Quem sabe pode até ser um elogio praquele amigo que começou um hobby novo e precisa de um incentivo pra continuar refinando. Em última instância, até evitar se manifestar ou não encaminhar uma mensagem errada é também uma maneira de influenciar de maneira responsável. Quebrar o ciclo é tão importante quanto iniciá-lo em alguns casos.
No final, acho que a gente esquece do potencial de vagas que podemos preencher, quanto faturamento podemos gerar, quanto entusiasmo podemos alavancar ou até quantas informações erradas conseguimos estancar com o que decidirmos fazer.
Obrigada, Ghedin, pela confiança e pela recomendação. E olás, olás aos novos assinantes. Sejam bem vindos e tentem não reparar na bagunça.
Coisas que eu li por aí
Como responder quando alguém traz uma má notícia
Na dúvida em como acolher alguém que comenta más notícias contigo? Não é preciso prometer que tudo vai melhorar ou fazer qualquer movimento mais “positividade tóxica”. Na maior parte dos casos, tudo o que podemos fazer é reconhecer que a situação é trágica e nos colocar à disposição. Li um material da Time que traz uma lista de 10 sugestões de como responder a comentários de momentos tristes ou dramáticos. O meu favorito é “Como tem sido para você?”, que abre um espaço para que a pessoa conte como está lidando com o assunto. Pense, por exemplo, numa pessoa que acaba de ser demitida. Será que ela está triste? Ou está feliz por ter a chance de tirar um sabático? Tem outras 9 ideias neste link.
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Dicas pra liderar o time quando alguém da sua equipe está muito mal
Outro dia uma pessoa me contou como a empresa dela tinha criado um ritual de despedida para um dos chefes quando ele faleceu. O chefe em questão já havia informado ao RH que suas chances de sobrevivência de uma doença grave seriam baixas. Quando a pessoa partiu, já tinha sido preparado um protocolo para que todos pudessem se despedir em um mural digital, que seria encaminhado à família. Além do cuidado com os familiares do colaborador em questão, isso fez bastante diferença para o time, que pode expressar sua tristeza, a gratidão da convivência com aquele chefe, e viveu seu luto de forma saudável.
Achei de um cuidado primoroso, ainda que a situação seja extremamente delicada. Foram amparados em um mesmo processo tanto a família quanto o time que sofreu a perda e se viu afetado, de uma maneira ou de outra, pela situação. Talvez por isso que achei esse material do MIT Sloan Management Review interessante. Ele traz cinco passos importantes, que destaco pra você que me lê:
Ofereça espaço e acolha a comunicação aberta e de forma sensível
Faça os ajustes de rotina para que o colaborador afetado possa estar tão presente quanto possível nas atividades; alguns sentem que trabalhar “distrai” da doença
Informe e prepare o time sobre o que eles podem esperar, com o consentimento do colaborador afetado, é claro.
Prepare-se para a continuidade dos negócios na ausência do colaborador, seja treinando colaboradores que possam substituí-lo ou fazendo novas contratações
Ofereça apoio emocional não apenas para a família do colaborador afetado, mas também para o seu time
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Será que estamos sendo as péssimas condições climáticas de alguém?
Seth Godin é um autor que acompanho faz um tempo, não porque eu concorde com tudo que ele diz, mas porque me surpreende o quão prolífico ele é e o quanto ele publica sem se importar tanto assim com as críticas. Ele posta conteúdos diariamente no seu blog, mas não tem ferramenta de comentários. É como se ele não estivesse nem aí para o que você ou eu pensamos, mas compartilha seus pensamentos e ideias livremente. Às vezes sinto como se o blog dele fosse um grande Obsidian público da sua mente. Em um dos textos de algumas semanas atrás, ele me deixou pensativo ao perguntar se “somos como o tempo". O texto é bem curtinho, então tomei a liberdade de fazer uma rápida tradução em parceria com o meu amigo GPT. Fica como provocação para você também:
A tempestade não sabe que existimos. Danças da chuva e mandingas são ineficazes para trazê-la ou evitá-la, porque ela não é causada por nossas ações.
E é fácil se confundir em interpretação metafórica sobre o clima. Quando alguém nos corta no trânsito ou não interage conosco da maneira que esperamos, é fácil levar para o lado pessoal. Mas… o clima estará lá com ou sem você.
Existem duas perguntas úteis. A primeira é se estamos nos expondo a condições climáticas que não são seguras ou úteis. E a segunda, quando a situação se inverte, é perguntar a nós mesmos: "Estou sendo o clima de alguém agora?" Porque isso é algo que podemos controlar.
- Seth Godin, junho de 2024
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Mais Platão e Backman, menos Prozac
O texto não é novo, mas é interessante. Nick Romeo, da New Yorker, foi até uma conferência de filósofos conselheiros, que fazem sessões de “filosofoterapia” individuais. A ideia é auxiliar as pessoas que passam por conflitos internos a refletirem em busca de saídas com base na filosofia. Vale frisar que o objetivo aqui não é cuidar de saúde mental, mas de ajudar as pessoas a encontrarem saídas para seus dilemas pessoais. Por vezes, acho que a literatura também ajuda nesse sentido. Ler histórias, ficcionais ou não, pode ajudar a refletir sobre as saídas encontradas pelos personagens e levar a provocações sobre as próprias visões de mundo. Se quiser uma sugestão, lembro sempre do meu autor favorito, Fredrik Backman, mas também temos bons casos de boas histórias no Brasil como A Pediatra ou Tudo é Rio. Livro bom é livro que provoca, na minha opinião. Quem sabe valha tentar?
O que mais você pode ouvir por aí
Pode apertar, mas não pode acender. Esse é o meu resumo da complicada questão relacionada à descriminalização da maconha, que foi trabalhada recentemente pelo STF. Acompanho assuntos relacionados aos negócios da maconha desde 2019, quando o tema surgiu para mim na minha primeira ida ao SXSW, e desde então enxergo a questão de outra maneira. A descriminalização é uma medida complicada por questões de preconceito, complexa porque envolve um ecossistema imenso de coisas, mas muito necessária de tratarmos. Para não ficar na superfície ou incorrer em preconceitos, recomendo muito escutar esse episódio do Café da Manhã da Folha de S. Paulo, que conseguiu ser bastante didático, traduzindo juridiquês para português e exemplificando algumas temáticas importantes da lei aqui no Brasil.
Perdeu as edições anteriores?
Não tem problema: dá para conferir todas elas pelos links das newsletters. As últimas mais curtidas segundo os leitores são as seguintes:
Dê espaço
A distância ajuda a não acostumar e ter um novo olhar para as mesmas coisasMentoria Relâmpago
Sem você perceber, minutos de mentoria piscam na sua frente. Pode ser bom reparar para absorver.Pratinho que cai, pratinho que voa
Nem sempre dá para fazer tudo, mas sempre dá para priorizar
O que estive fazendo por aí
Pesquisei e entendi muita coisa sobre carros e a indústria automotiva
Tem ideia de quantas pessoas são mobilizadas pra fazer um evento dar certo? Várias. Dezenas, centenas delas. A depender do porte do evento, podemos estar falando de milhares. E as funções são das mais diversas: assistentes, diretores artísticos, mestre de cerimônias, especialistas em áudio, e por aí vai. Meu papel é ser roteirista: como ghostwriter, redijo discursos de abertura e encerramento, roteiros para moderação de painéis, até narrativas de palestras. Tem letrinhas e é baseado em verdade e dados? Talvez eu esteja envolvida. Nas últimas semanas, estive dedicada a entrega do 4o Conecta Autos, evento voltado para o setor automotivo produzido pelo grupo OLX. Foi um evento enorme, incrível e muito potente. Conto isso pra você que me acompanha pra justificar a longa ausência de newsletters e também pra provocar você a ter uma conversa mais profunda quando alguém te contar que trabalha com eventos. Pergunte se é da produção (que cuida da logística), da montagem, da equipe artística (que cuida dos shows de luzes e toda a parte bonita do evento) ou do roteiro. Isso pode ajudar sua conversa a ser mais rica e você parecer mais inteligente do que já é. Quem disse que conversas precisam sempre ser superficiais, né?
Já nos preparativos para rever amigos pesquisadores no ESOCITE 2024
Esse é exatamente o meu tipo de evento: um encontro de gente inteligente e curiosa que se encontra para trocar informações, provocações e feedbacks. É o festival dos acadêmicos. Nesta 15a edição da Jornada Latino-Americana de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia, vou apresentar meus achados da pesquisa de mestrado sobre influência digital de ciência e espero conhecer tantas outras mais pesquisas que abordam temas importantes do desenvolvimento da ciência e tecnologia (C&T).
Se você estiver por lá, me dê um alô e tomamos um café!